quinta-feira, 20 de agosto de 2009

O começo - parte I


“Deixa-me escrever o princípio, o meio e o fim desta nossa história de amor”. Ainda te lembras do que pedi? Pois eu prometi-me a mim mesma que o faria. Cedo de mais ou tarde o suficiente? Na verdade, não consigo responder a essa pergunta. Mas digo-te sim que estou aqui hoje para escrever aquilo que, na minha cabeça, já devia ter começado há muito tempo. Não imaginas o quão pesada é esta corrente que carrego atada em mim… São três anos amor. Três anos de espera, três anos de distância, três anos de amores e desamores. Três anos de sofrimento, três anos de surpresas, três anos de pura paixão. Três anos que nunca se esquecem… Aliás, como poderia eu os esquecer?
Mas deixa-me começar pelo início… O dia em que a minha vida mudou subitamente para dar asas a esta fantasia estonteante. O dia em que a minha vida se tornou numa luta constante para conseguir atingir a mais pequena e precisa proeza que era respirar uma lufada de ar fresco.
Foi numa linda noite de Julho. Uma brisa quente pairava sobre o campo de relva verdejante, com um aroma que denunciava ter sido acabada de cortar. As estrelas penduradas sobre os panos azulados, de um tom forte. A lua cheia, amarelada e repleta de vaidade. Aquele parecia de facto ser o cenário perfeito. Lagos, assim se chamava a linda cidade onde tive a felicidade, ou infelicidade (já nem sei) de te conhecer. Consegues recordar já um pouco?
Lembro-me de ter terminado o jantar e ouvir uma campainha que parecia soar impaciente. Eu estava a acabar de finalizar aquilo a que eu chamo habitualmente “os últimos retoques” e, por isso, a minha mãe não teve mesmo outra alternativa se não mesmo ir ver quem era.
- A Inês? Diga-lhe para ela descer. Estamos todos à espera dela. – ouviu-se do outro lado da linha.
- Ela desce já – respondeu a Sra. Idalina expectante como toda a boa mãe que sente de repente a sua filha a despertar e a sair do pequeno casulo.
A voz do outro lado era o Anderson, o rapazinho de 12 anos, brasileiro e cabelo aloirado que residia já há três anos no complexo turístico “Iberlagos”. Era como que a minha mais recente adquirição “amizade de verão”, e eu sentia-me de facto contente por ter tido a oportunidade para conhecer aquele ser. Era uma pessoa simples mas que tinha a capacidade de irradiar uma alegria extrema. Talvez por essa mesma característica ainda o tenha hoje tão presente na minha mente. Bem, mas não é sobre o Anderson que se trata este texto. De quem eu quero falar és tu.
Desci apressadamente pelas escadas ao fundo do corredor, ainda na esperança que iria chegar a horas àquele encontro. Na verdade, não haviam concretamente horas marcadas, mas aquele encontro era uma surpresa para todos nós. Até as vizinhas alemãs não quiseram perder pitada do acontecimento… Os tão falados “vizinhos do Telmo” haviam chegado! E agora que falo nele, o Telmo foi apenas o princípio para tudo... E tenho de lhe agradecer profundamente por ter aparecido na minha vida. Sem ele nunca teria conseguido chegar a ti.
A espera pelos vistos tinha sido mais que muita e mal sai do edifício A fui abordada pelo “brasileirinho”.
- Onde istáva você? Tava tudo tji esperando! Vai pra’ lá, pra’ junto deles! - disse-me em tom de despacho.
É claro que o despacho se devia à linda alemã, Sophie, sob a qual ele pendia o braço e da qual pretendia tentar a sorte e tirar um pouco mais do que apenas amizade. Foi então que os nervos se começaram a apoderar de mim. A verdade é que sempre fui uma pessoa muito tímida e, apesar de já conhecer o Telmo, o conhecimento acerca dos seus vizinhos era-me escasso. O meu coração desatou subitamente a emitir batidas frenéticas, cada vez mais rápidas e cada vez num espaço mais curto. Parecia que ia explodir de tantas borboletas que tinha no estômago. Porém, uma enorme luz vinda do nada ofuscou-me de tal forma que toda a possibilidade que tinha de contemplar os rostos desconhecidos fora por água abaixo. Neste caso, pela luz abaixo. Mas foi essa mesma luz que desencadeou em mim uma sucessão de passos até vos encontrar. Parecia a caminhada mais longa da minha vida. E para isso talvez eu até tivesse uma explicação mais que racional…emocional. Tenho de confessar que para mim, Verão sem conhecer pessoas novas não é propriamente o meu sinónimo desta estação. Sobretudo se dentro dessas pessoas novas não houver um possível candidato ao trono de “amigo especial”. Sempre adorei aquele jogo de conquistar e ser conquistada, admito. De uma forma tímida, mas que não impedia que esse fosse considerado o meu passatempo eleito desta época do ano.
Bem, prosseguindo… A verdade é que eu achei muita piada ao Telmo desde o momento em que o conheci, mas a nossa relação não passava de algo maternal. Havia sem dúvida um sentimento protector que eu tinha criado e que nos unia mais que nunca. Ele era sem dúvida o candidato mais indicado, mas sim ao trono de “um grande amigo”. Mas eu precisava de mais. Precisava de me sentir desejada. E de uma certa forma, foi a excessiva expectativa em redor dos vizinhos que acabou por tornar o meu processo digestivo o mais rápido de sempre.
A luz começou a desvanecer enternecedoramente e os meus olhos prenderam-se aos teus. Ainda me consigo lembrar das vossas posições… Todos sentados de pernas à chinês… O Telmo do meu lado esquerdo, o André mesmo na minha frente e, do meu lado direito, lá estavas tu. Inclinei-me em direcção ao chão para cumprimentar o Telmo e o André, mas quando chegou a tua vez tu surpreendeste-me com esse teu cavalheirismo. Foste o único capaz de se levantar perante a presença de uma figura feminina. Naquele momento juro-te que tinha a certeza que tudo parou. Parámos nós, o brasileirinho, as risadas, os pássaros, as folhas, o mar… O tempo parou para nós e nós parámos completamente no tempo. Não te consigo descrever a sensação que tive na altura… Senti que o meu desejo tinha sido cumprido e ao mesmo tempo asfixiada pela forma como os teus olhos se encaixaram nos meus. Acredita que naquele momento morri quando me apercebi da nitidez com que eu consegui vislumbrar os meus sentimentos por ti. Num só olhar foste capaz de deitar abaixo metade do meu jogo de sedução e prender-me a ti com o desejo de nunca mais me soltar. Aquilo foi sem dúvida o meu primeiro grande amor, e sem dúvida à primeira vista.
- Inês, estes são o André e o Leitão (deixa-me tratar pelo apelido). – foi a única coisa que eu passei a ouvir lentamente ressoar dentro do meu ouvido, como se tivesse acabado de acordar de um sono profundo. E eu queria era verdadeiramente nunca mais acordar. Um “olá” tímido e um sorriso totalmente rasgado, foram as primeiras coisas de muitas que recebi de ti.
Já saída do meu estado de “anestesia” lembro-me de ter perguntado pela Nani, a menina linda de cabelos loiros e olhos azuis, para fazer companhia à minha pequenita.
- Ela não está. Ficou no apartamento. Mas anda, eu vou buscá-la contigo. – consegui notar logo aí um sotaque que me arrebatou o coração. E eu, derretida e inocentemente perdida, não pude de nenhum modo recusar.
Pelo caminho as perguntas foram as esperadas e as necessárias para quebrar o silêncio. “Que idade tens? És de onde?”… As tuas respostas: dezassete anos, Póvoa do Varzim. Póvoa do Varzim? Acho que naquele momento nem eu me apercebera que aquela terra ditava um obstáculo para mim, para ti, para nós. Para mim, essa terra estava tão distante naquele momento quanto eu do mundo real. Foi tudo tão perfeito, tudo tão estranhamente enquadrado... De repente…
- Inês, vem para casa. Amanhã levantamo-nos cedo. – chamou a Sra. Idalina.E lá tive eu que colocar os pés em terra mais uma vez.
Nem me pude sequer despedir, dar-te um beijo de boa-noite. Eu tinha acabado de ficar loucamente apaixonada por um estranho, e a única coisa que eu queria naquele momento era entregar-me aos lençóis e esperar que o amanhã chegasse. Assim eu saberia que não tinha nunca idealizado aquele sonho.

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Inspiration

Tinha que pôr esta música aqui, nem que fosse pelo simples motivo de ela me servir de inspiração. Sempre que escrevo, é nela que me entrego. É qualquer coisa de superior :)

terça-feira, 18 de agosto de 2009

Silêncio, consegues ouvir-me?



A noite corria veloz lá fora. A lua, fixando-se no meio do palco estrelado, parecia agora reflectir majestosamente toda a sua luz pelos telhados de Lisboa.
Olho em redor. Tento encontrar outra inspiração que não esta que carrego na mente, mas a única coisa que consigo encontrar lá fora é o silêncio da noite. E o silêncio da noite era apenas tudo aquilo que eu não queria encontrar, pois quando existe silêncio, quando consigo escutar este vazio profundo que guardo em mim...a única coisa, a única coisa que eu consigo recordar és tu.
É no silêncio... É no silêncio que oiço sempre o eco da tua voz. É no silêncio que eu consigo rever sempre o brilho do teu olhar. E sim, é ainda no silêncio que eu recordo sempre tudo aquilo que nós costumávamos ser um dia. Mas agora que penso... Esta ausência de vozes... Só pode ser ironia. Pura, dura e crua ironia. E queres saber o porquê? Porque pode até ser no silêncio que me ocorrem lembranças tuas, mas será sempre ainda na triste realidade do meu bloco de folhas pautadas A4 que as palavras sobre ti não pararam de germinar. E sim, vão ser elas que, um dia, me ajudarão a quebrar este silêncio que carrego atado em mim.
Recuso-me. Recuso-me silêncio! Sabes bem que a minha vontade era gritar para ti e passar a enunciar tudo aquilo que gostava de ter dito sobre aquele que ambos bem conhecemos, aquele cujo nome não posso, não quero pronunciar. Essa sim era a minha vontade. Gritar, gritar e gritar... Quebrar-te a ti, silêncio, em mil e um pedacinhos para que não tivesse de recordar nunca mais "aquele". Mas tu, tal como eu, sabemos que tu, silêncio...tu não tens culpa. E mais... Eu e tu sabemos melhor que ninguém que ele não merece. Não merecias tu, não merecia eu e não merecia ninguém. É por isso que me recuso a quebrar esse silêncio. Não é o silêncio que tem de partir, agora percebo. Não. És tu, as tuas memórias e tudo aquilo que trouxeste contigo que precisam de encontrar rapidamente uma saída. Não me interessa o que tenhas de fazer para o conseguir, se sofrerás ou não com isso… Eu apenas sei que quero encontrar a saída do teu amor. Quero encontrar o grande cofre onde possa fechar este meu coração, trancar a sua porta a sete chaves e esperar… Esperar que, bem escondidinho, ele se esqueça de quem foste e de tudo aquilo que mudaste na minha vida. Esperar que, assim, ele encontre rapidamente uma nova saída. Neste caso, uma nova oportunidade, uns novos olhos para poder ver aquilo que a minha cegueira por ti não me permitiu.
Preciso esquecer-te. Preciso ser feliz. Não entendes? Talvez esta seja uma realidade demasiado dura para entenderes, mas deixa… Eu já nem peço que compreendas. Não te dês a esse trabalho. Eu ao menos consigo entender este silêncio e ele também consegue entender a dor que causa em mim.
Deixa-me entregar-te às linhas, ao papel, ao meu bloco de folhas pautadas A4. Deixa-me escrever o princípio, meio e fim desta nossa história de amor.
Ainda não entendes? É tudo o que eu te peço… Eu só quero ser feliz.



sexta-feira, 7 de agosto de 2009

O palco da minha vida

Em cima da mesa-de-cabeceira de madeira, o pequeno écran azul do telemóvel parecia indicar o começo de uma noite quente e longa. Por cima dos lençóis de cetim, o cenário estava montado. A caneta segura por entre os delicados dedos, agora adormecidos; o caderno aberto sob a almofada. Linhas ainda frescas acabadas de tintar por cada sílaba pronunciada naquele coração.
Chegava agora a hora. Aquele corpo ali adormecido já nada podia fazer para combater o vazio que o preenchia. Lentamente, os seus pequenos olhos castanhos já semicerrados deixaram-se vencer. Duas lágrimas se soltaram e, uma por uma, percorreram em fúria a face daquela rapariga que jazia ali adormecida. Nada nem ninguém se poderia demonstrar indiferente àquela imagem… Era de facto doloroso ver a tristeza com que aquele rosto o reflectia. Nem a luz da lua, nem mesmo o vento que soprava ansiosamente sussurrando aos ouvidos das folhas verdes de Verão… Nada poderia deter o que ali se iria passar.
Todo aquele sofrimento delineado em cada traço da sua expressão, toda aquela sua posição, enroscada desde a ponta dos pés até à ponta dos cabelos, como uma simples criança que busca por mais um pouco de carinho e conforto; todo aquele longo cabelo molhado pelo rio de água que assim correu dos seus olhos durante aquela quente madrugada… Era de facto um daqueles momentos pelos quais pagaríamos para assistir na primeira fila, nem que fosse simplesmente para o poder partilhar. Mas aquela angústia, aquela dor, aquele sofrimento… Não se poderia comparar a uma simples representação. Não. Aquele molho de sentimentos era bem real, e sim, era ele que fazia adormecer todos os dias aquela rapariga, sempre com a mesma expressão, sempre com a mesma posição, sempre com o mesmo cabelo molhado. Era ali, deitada por entre os seus lençóis de cetim, vestida pelo toque suave do seu vestido de seda preto… Era ali que todos os dias o espectáculo tomava vida. E era assim que, sem excepção, mais uma noite repleta de estrelas abria o palco para o estrondoso complexo que era a sua mente…o sonho de uma vida. Ou poderíamos mesmo dizer, o pesadelo da sua vida? Sim, talvez fosse mesmo esse o melhor termo a aplicar, pois só a palavra ‘pesadelo’ poderia descrever o rumo que a vida daquela rapariga tomou. E era também assim que, todos os dias, sem excepção, ali eu marcava a minha presença. Todos os dias eu comprava o bilhete para, na primeira fila, assistir aquele espectáculo…aquela a que eu chamava a minha mais recentemente adquirida “droga mais doce”. Por vezes chegava mesmo a ser o único espectador, mas a verdade, essa, é que eu nunca me cansava de ver todas as noites as mesmas cadeiras vazias, o mesmo cenário, o mesmo final triste. Houvesse o silêncio que houvesse, a tempestade que houvesse…para mim, valeria sempre a pena pagar para observar mais uma vez aquele espectáculo. Porque, no fundo, aquele espectáculo era o MEU.
Aquele foi o rumo que a minha vida tomou, aquelas foram as noites que se passaram a seguir uma após outra, aquele foi o caderno no qual todas as noites eu me deixei adormecer. Tudo para que eu pudesse assistir todos dos dias àquele que era o meu espectáculo. Tudo para que um dia eu conseguisse transpor as minhas lágrimas, a minha fúria interior, este grito que preciso de soltar cá para fora. Tudo para que um dia eu pudesse pegar nas memórias menos boas, pintá-las no meu caderno, soltá-las no palco e, assim, libertar-me deste pesadelo e construir o meu final feliz.
Todas as noites, uma por uma, assim será este o meu caminho. Assim serão estas as cortinas que eu irei ver a abrir e fechar todas as noites… Aquelas cortinas onde eu poderei revelar o que sinto, onde eu jamais terei de esconder o que sou. O final feliz? Esse? Não sei onde estará… Por enquanto apenas sei que vou continuar a aplaudir este meu espectáculo. Talvez o meu final feliz esteja mesmo no dia em que as cortinas não se deixarem abrir. Talvez o meu final feliz esteja mesmo no dia em que o bater das minhas palmas não passará de um eco dessa dor a ressoar no meu coração.
Agora silêncio. O caderno já se encontra aberto sob a almofada, a caneta segura por entre os dedos delicados, agora adormecidos; as linhas ainda frescas acabadas de tintar por cada sílaba pronunciada pelo seu coração. A noite é longa, e um novo espectáculo está para começar. Preciso de ir comprar o bilhete para a primeira fila. Sim, agora sim… Silêncio. Luzes, câmara… Acção.

As 10 coisas que Odeio em Ti


Odeio o modo como falas comigo...
... e a maneira como cortas o teu cabelo...
Odeio a tua maneira de conduzir...
Odeio quando me ficas a olhar fixamente...
Odeio as tuas grandes botas de combate...
... e a maneira como me lês os pensamentos...
Odeio-te tanto que chego a ficar doente....
... e até me faz rimar...
Odeio...
Odeio o facto de estares sempre certo...
Odeio quando mentes...
Odeio quando me fazes rir...
... e ainda mais quando me fazes chorar...
Odeio quando não estás por perto...
... e quando não me ligas...
Mas principalmente, odeio o facto de não te odiar...
... nem um pouco...
... nem perto disso...


Do filme "10 coisas que odeio em ti"