domingo, 28 de março de 2010

O MEIO - PARTE II


Muitos foram os dias, as horas, os minutos, os segundos que passaram desde a última vez que escrevi sobre ti... Talvez até tenhas notado ao ler os primeiros três textos que as minhas palavras não foram inteiramente escritas para ti, mas também para um alguém...um alguém que estivesse disposto a ler, a sentir tudo aquilo pelo que passei ao longo destes últimos anos.

Agora que os meses foram passando, confesso-te que a dor já não é a mesma. Não é que ela tenha desaparecido, porque sei que ela ainda se encontra aqui, bem refasteladinha no meu coração, recusando-se a sair. Mas já não me atormenta tanto a alma como o fazia das primeiras vezes. Foi algo com o qual aprendi a lidar, a viver todos os dias um por um, sem excepção. Um curso tão intensivo, tão doloroso, que tive de fazer um esforço imenso para conseguir passar no derradeiro teste e alcançar um dos meus objectivos...acabar de escrever esta nossa história.

E agora que a dor também não pesa tanto, consigo aceitar e entender melhor este nosso destino, embora não seja aquilo que eu sempre idealizei para mim, para ti...para NÓS. Destino incerto o nosso!...

Embora sinta que perdi aquela intensidade inicial com que abria as portas do meu coração para ti, para um alguém, sinto que ainda ficou muito por dizer... Só tu sabes o quanto estas palavras significam, para mim, que são como uma divina libertação de anos acorrentada a um passado; para ti, que precisas de paz, que precisas também de o entender; e para nós, para conseguirmos olhar de fora para esta nossa história e deixar de a ver com sofrimento mas sim como uma felicidade tão grande como aquela que um dia guardámos para nós. E sim, como tu bem dizias...para contar também aos nossos filhos, aos nossos netos um dia. Juntos ou separados podemos sempre passar-lhes essa parte de nós, não achas?


Agarrada a uma rede de milhões de pessoas, eu adormeci naquela noite quente de 16 de Julho, a pensar, a sonhar com os nossos dias dali em diante. Imaginei a próxima vez que os nossos olhares se cruzariam. Imaginei o teu toque a percorrer a minha pele. Imaginei o dia pelo qual esperei incansável, o dia em que os nossos lábios se iriam fundir num só, saciando a sede imensa da tua saliva. Imaginei e idealizei tudo num sonho, numa nuvem branca e leve que transportei comigo noite após noite. Uma noite, duas noites, três noites...até que o primeiro mês passara, e nada. Absolutamente nada. Eu amava-te perdidamente e simplesmente não conseguia estar contigo. O poder extasiante dos teus olhos, o calor do teu corpo, o mel do teu sotaque...eu não conseguia sentir nada de nada. E isso torturava-me. Magoava-me como tu nem podes imaginar. Querer estar todos os dias, todos os bons e maus momentos juntos da pessoa que amamos e simplesmente não poder. Tudo porque mais de 300 km's de estrada nos separavam e impediam de chegar mais perto um do outro, tudo porque a nossa idade também assim não nos permitia. Eu com treze, tu com dezassete...quais eras os pais que no seu perfeito juízo iriam compactuar com uma loucura dessas e deixar os seus filhos seguir viagem num comboio em direcção ao Porto ou a Lisboa, sozinhos, sem ninguém? A verdade é que não havia nenhuns! Pelo menos não os meus, que sempre souberam seguir tão bem o modelo típico de "pais galinhas". Mas não era aos meus pais ou aos teus que eu atribuía a culpa. De facto, a culpa não era deles, minha ou tua. A culpa era de todos e concretamente de ninguém. Nós apenas não tínhamos ficado destinados um ao outro naquela altura, não era o nosso tempo...não o era.

Para alguém, o nosso destino era conhecer-nos, saber que existíamos neste mundo. Longe ou perto, nós tínhamos de saber que existíamos um para o outro. E, pelos vistos, parece que essa foi mesmo a única coisa que esse tal senhor, que se toma por destino, pensou... Porque ele não devia ter nunca parado para pensar que podia ter cruzado a nossa vida numa outra altura...uma altura em que o nosso amor pudesse ter passado de um sonho a uma realidade, uma outra altura que nos tivesse poupado de todo aquele sofrimento, de toda aquela dor que invadia o meu e o teu coração. Destino, tu não paraste sequer para pensar nas consequências de toda a tua loucura, pois não? Não, nem precisas de responder que eu já consigo adivinhar qual é a tua resposta.

Lembras-te do que me disseste nos primeiros tempos, quando ainda perdias as manhãs deitado na cama a ver o "Você na TV"? Disseste-me que, a propósito de um desses programas, o nosso amor era capaz de ultrapassar todas as barreiras, até a distância, e que nós íamos ser capazes de ultrapassar tudo aquilo. Disseste-me que eu só tinha de querer e nunca perder a vontade, que isso era a única coisa de que nós precisávamos. Era bom que assim tivesse sido...porque o nosso amor não desapareceu, não... Isso a distância não nos conseguiu tirar! Ela apenas nos roubou o prazer, o sabor de o viver, ela apenas nos tirou o tudo...tirou-nos o tudo e tirou-nos o nada.

E assim se adivinhou o fim daquelas quatro meses que se seguiram... De Julho até Outubro, conseguimo-nos aguentar com a troca de mensagens. Mas a partir daí foste tu que te apercebeste como aquela situação não podia continuar, e não podia mesmo. Era qualquer coisa impossível de aguentar e, sem nos darmos conta, ia destruindo a pouco e pouco cada pedaço que restava de nós. Ainda bem que algum de nós conseguiu vencer a cegueira do amor. Tive pena que esse alguém fosses tu, porque lembro-me que na altura parecia que estavas simplesmente a desistir, a fazer precisamente o contrário daquilo que me tinhas pedido para não fazer. Mas depois percebi que não eras tu... Nós éramos demasiado novos, e ainda o somos... Mas naquela altura aquilo era um peso demasiado grande para que os dois o conseguíssemos suportar.

“Acabara”. O meu mundo estremecia, o ar à minha volta asfixiava-me, mas eu sabia precisamente naquele momento…acabara.



…MAS AFINAL, AS COISAS NÃO ACABAM PARA SEMPRE…

6 comentários:

  1. "Tudo porque mais de 300 km's de estrada nos separavam e impediam de chegar mais perto um do outro"

    como eu entendo.. também estou a 300km da pessoa que amo, e sei o quanto dói :x

    AMEI estes textos, estão mesmo lindos :$

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  2. é verdade, a distância estraga muita coisa, mas ainda assim não consegue apagar o que vai no coração das pessoas - em vez disso transforma tudo isso numa espécie de amor muito diferente, uma espécie que maltrata, que corrompe, uma espécie a que damos o nosso de dor, tortura, que todos os dias faz verter inúmeras lágrimas nos nossos rostos e nos coloca num estado vegetativo incrível. Sim, a distância é maquiavélica e nem sempre a podemos contrariar - principalmente quando temos 13 anos e vamos atrás de um rapaz.
    Ainda assim é ela que nos faz saber o que sentimos por esse alguém do outro lado do lago de areia movediça, se o já o conseguimos esquecer...


    Parabéns minha querida, já sentia a tua falta *

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  3. Haha sim. Bastantes papelinhos teus - do 10º, do 11º e especialmente do 9º, onde também entrava o Azevedo de vez em quando.
    Enfim...
    Não estavas na Madeira? Tens net?

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  4. O verdadeiro não acaba, acredita :)

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  5. continuo à espera da continuação menina Inês (:

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