sexta-feira, 9 de outubro de 2009

O Meio - Parte I


Aquela despedida do verão de 2006 marcara sem sombra de dúvida mais uma nova etapa a minha vida. Quando te deixei para trás naquele dia, em Lagos, consegui perceber imediatamente isso… Não era normal uma rapariga como eu deixar-se remexer tanto com um simples e inocente “adeus”, nem tão pouco passar uma tarde inteirinha como a que passei no dia 16 de Julho, desconsolada e arrebatadoramente fragilizada.
Quando me afastei lentamente no carro acenando na tua direcção, lembro-me de ter olhado para o teu sorriso, para os teus olhos… Já estavas demasiado longe para poder voltar atrás mas ainda assim o suficientemente perto do meu coração para perceber como aquela imagem nos destroçou a alma e quebrou o nosso coração, partindo-o em mil pedacinhos e congelando no tempo aquele momento. Eu sabia que, tal como eu, também estavas a fazer um esforço inimaginável para não destruir aquele que seria o nosso último momento, aquela que seria a última imagem com que ficaríamos do nosso verão. Foi por isso mesmo que mostrei forte e esbocei ainda assim o maior sorriso que consegui ao ver-te afastar. Sorria por fora, mas vocês não imaginam o eco que o meu choro provocava por dentro…
A tua imagem passou a ser uma figura estremecida ao longe, e a única coisa que me ocorreu instantaneamente mal virei costas foi libertar a lágrima que escondi durante aquele minuto no cantinho do olho. Se as certezas me faltaram durante aquela semana então foi na despedida que eu encontrei a prova indubitável de que tanto careci durante a tua presença. Eu tinha deixado para trás o homem da minha vida, essa era a minha única e grande certeza.
A viagem que se seguiu até Lisboa foi mais uma prova daquilo que eu me esforcei relutantemente por esconder naqueles dias. Cingindo-me à pequena viatura de cinco lugares aquela foi talvez a viagem mais difícil com a qual tive de lidar. Sentia ardor, o chão a estremecer, o meu mundo a desabar… Tudo porque não te conseguia tirar da cabeça. Acho que naqueles 300 km’s senti-me no fundo tudo menos uma pessoa normal. E, nas mais profundas entranhas do meu ser, não seria para mais…
Tentei sacudir os meus pensamentos, enxotá-los e empacotá-los para o sítio de onde vieram. Mas era impossível… Eu não tinha mais forças nem vontade para pensar em mais nada senão em ti.
Por entre os longos cabelos castanhos que me cobriam o rosto, queimados pelo sol, foi então que chorei desalmadamente ao som das baladas que tocavam na playlist do meu mp3… Aquelas letras empanturraram o meu coração de renúncia, fizeram transbordar todo o sangue que nele corria. A única coisa que eu já mais queria era provocar um acidente no meio daquele monte de alcatrão e colidir direitinha em direcção em ti. Um choque frontal que me fizesse ver quão estúpida fui quando te deixei escapar por entre as mãos naquele momento. O quão estúpida fui quando me resignei ao ver-te partir em vez de ter saído do carro e correr de volta para os teus braços. O quão estúpida fui por ter duvidado alguma vez daquilo que criámos um dia. Mas o que é que eu poderia fazer mais?... A minha escolha estava tomada, a minha sentença lançada. Já não me restava mais nada senão a prisão do meu quarto e uma semana repleta de frustração e arrependimento. Oh!... Se ao menos a vida me tivesse voltado a dar uma nova oportunidade… Perdoa-me “André”. Perdoa-me por tudo isso.
Depois daqueles 300 km’s de alcatrão e paisagens verdejantes à mistura, bati finalmente à porta do º18. Sabem aquela sensação reconfortante de voltar a pisar o tapete de entrada de nossa casa? Sentir o aroma de canto e de cada divisão?... Aquele simples gesto de largar malas, estender-se na cama e soltar um suspiro ao mesmo tempo que murmuramos para nós mesmos secretamente um “Lar, doce lar”?... Tantas boas sensações e nem uma delas se encontrava lá. Por mais estranho que parecesse senti-me como se aquele não tivesse sido nunca o meu ninho, o meu porto de abrigo. Talvez porque, mais estranho que possa parecer ainda, não era a mesma menina que atracava naquele porto agora. Não. Aquela já não era nem seria nunca mais a menina que aquela casa viu crescer, a menina que aquela casa viu transformar-se e passar aquela mulherzinha que começara a sentir finalmente os sabores e dissabores da paixão.
A vida muda… As circunstâncias são umas das responsáveis por isso… E no meu caso, tenho a dizer, mas que grandes circunstâncias! Não sei se foram elas as mesmas responsáveis por fazer tocar o meu telemóvel na noite do dia 16 de Julho, mas se assim foi, então muito obrigada “circunstâncias”!
Aquele telefonema tinha como remetente o motivo da minha vida ter mudado, e a pessoa em que todas/os vocês devem estar a pensar neste momento. Era ele…o grande amor da minha vida.
Quando vi o teu nome no ecrã quase que cheguei a acreditar que estava à beira de um ataque de nervos. As borboletas agitaram-se tanto dentro do meu estômago que acho que, por momentos, devo ter subido lá bem alto às montanhas de algodão doce, divinas e triunfantes, e me afundado no meio delas. Porém, foi a tua imagem iluminada lá em cima que me fez voltar a pôr os pés cá em baixo e descer rapidamente à realidade. Quase que em reacção imediata premi a tecla verde do meu Sony Ericsson da altura. A tua chamada era sem dúvida algo que eu “temia” mas que não queria, não podia perder por nada deste mundo.
- Olá – ouviu-se do outro lado da linha.
- Olá André – respondi eu, derretida com aquela tua “pronúncia de azeiteiro”, como tu lhe costumavas chamar.
- Eu sei que provavelmente não devia estar a ligar a estas horas, mas… A verdade é que eu já não podia mais sem ouvir a tua voz. Como é que estás?
“Perguntaste-me como é que estou”, pensei eu… Como é que querias que eu te respondesse a essa pergunta depois daquilo que decidiste perguntar-me primeiro? Tinhas deixado o meu coração aos pulos de alegria, excitação, conforto… Sei lá eu. Um misto de coisas que me deixaram incapaz de raciocinar.
- Também já tinha saudades de ouvir a tua – deixei escapar por entre os lábios semicerrados.
“Oh meu deus… Só podes estar maluquinha da cabeça!”, gritei para mim mesma. Nem podia acreditar que a Inês, a miss timidez do ano, havia soltado a chama num simples telefonema. “Mas e agora?”, pensei…”Talvez não tivesse dito isto”. É claro que a resposta para o meu nervoso miudinho surgiu logo de seguida…
- Sabe tão bem ouvir isso. Hoje foi o pior dia mesmo… Senti a tua falta, sentimos todos. Mas acredita que bastou o que disseste agora para já ter ganho o dia.
- Talvez devesse ficar calada, mas tenho que te dizer isto, porque me sinto completamente ridícula. Passei a viagem para cá, a tarde e acho que também vou ter uma longa noite a chorar. Mas porquê? – Perguntei, não na esperança que ele acertasse no meu “porquê”, mas sim na esperança que ele me confessasse o seu. A resposta já eu a tinha por baixo da língua prontinha para a soltar, mas o que eu queria mesmo saber era se tu estavas a pensar no mesmo que eu. Porque no fundo eu sabia que sim, mas eram das tuas palavras que eu mais precisava para me consolar, para me fazer agarrar o sonho e sentir o frenesim de felicidade que é ser correspondida do mesmo modo, da mesma simples e peculiar maneira.
- Oh Inês… Há tanta coisa que eu gostava de te dizer neste momento. És linda, e nesta semana eu…eu…
- André? – Chamei, na esperança em que ainda te mantivesses do outro lado da linha. A tua voz começara a desmoronar-se lentamente, ao fundo, e tudo o que eu já mais queria era que acabasses de dizer aquilo que começaste. Deixavas-me com o coração nas mãos… Era injusto que tivesse de carregar tal peso durante horas negras a fim. “Por favor”, pensei, “por favor, acaba o que disseste”. Era como se tivesses desligado momentaneamente a minha vida da máquina e eu precisasse rapidamente de uma investida para a recuperar. “Investe, fala por favor”.
- Tô? Inês? – Ressoou incertamente ao meu ouvido, a tua ternura de pronúncia.
- André? Estas aí?
- Sim Inês. Desculpa. Parece que o Telmo ficou invejoso por o estar a trocar por ti.
“Aiii”, suspirei. Não conseguia deixar de sorrir… Acho que se não parasse ia ficar com os músculos doridos de tanta felicidade junta.
- Bem, o que eu queria dizer era que tenho a resposta para o teu porquê. Só não vou poder dar-ta agora. Mereces que o diga com todo o tempo do mundo.
- Se tu o achas… Quem sou eu para não dizer que não?... – O sorriso deu asas a um brilho forte no olhar.
- Olha, vamos dar um mergulho à praia, e vamos nus. Amanha falamos, pode ser? Dorme bem. Beijinhos – foram as tuas últimas palavras naquela noite de 16 de Julho.
Na verdade, não sabia se havia de rir, se havia de chorar. Parecia que ainda não era hoje que eu iria ter realmente a certeza, embora eu já a tivesse…
- Adeus, André. Dá beijinhos a todos. Dorme bem – foram também as últimas palavras que consegui vomitar, por assim dizer. Afinal de contas, o que é que haveria para dizer mais depois de uma “boa noite” desejada?

Perguntam-se… A duração da chamada? Cinco minutos. A intensidade dos batimentos do coração? Três por segundo. As certezas? 99%. As incertezas? Aquela suficientemente grande com que me deixaste. O meu relatório estava feito. Tudo o que eu precisava era da tua assinatura para colocá-lo dentro de um envelope e direccioná-lo direitinho para o mundo da fantasia ou, melhor dizendo, para o mundo dos sonhos concretizados, aquele mundo longínquo e para o qual eu parecia finalmente ter arranjado o meu passaporte de entrada.
Pois de 1% ou 99%, sendo eu do agrupamento dos bichos de sete cabeças e teoremas de estontear, a verdade, essa, é que eu não vos consigo dizer se tive a sorte de me calhar 1 em 99 de hipóteses possíveis ou 99% nos meus quase 100% de certezas. As probabilidades são-nos muito úteis, mas de facto, em questões de amor, não é de contas de subtrair nem de multiplicar que é feito o resultado final. E não sendo uma barra a matemática, de todo, acho que aquele fora talvez o exercício mais acertado de todos. Probabilidade de sair ‘n’ elementos em ‘p’ experiências, ou não probabilidade (seja lá o que isso quer dizer) a verdade é que tu me havias acabado de enviar o passaporte de uma vida, o passaporte de um sonho que eu sonhava agora nunca mais terminar.

“AMO-TE”. “Amo-te”, pensei… Tu acabaras de me dar aquilo que eu mais precisava, aquilo que eu mais desejava para recuperar a minha respiração, a minha noite de sono profundo. “AMO-TE”, essa foi a tua ultima mensagem daquela noite, o meu derradeiro bilhete de embarque para a terra do nunca. Ou deverei dizer, “do sempre”?... Pois sabem que mais? Que se dane a probabilidade, o Teorema de Fermat e os problemas de trigonometria… As incertezas haviam sumido todas. A única certeza que eu já tinha era a tua, era ter-te a ti.
Aproximei o telemóvel do meu peito, aconchegando-te bem junto do meu coração. Já de olhos semicerrados emiti aquilo que a noite de 16 de Julho testemunhou…
- Amo-te, André – soltei dos lábios adormecidos.
Aquele foi o meu check-in. Aquela foi a minha primeira viagem até à lua… Aquele, foi o primeiro caminho que percorri verdadeiramente até ti. “Amo-te, André”…assim adormeci.

11 comentários:

  1. Não sei o que dizer sem ser repetitiva. Este texto 'afectou-me' especialmente porque ainda está tudo tão real e presente na minha mente, apesar de já se ter passado há uns meses. A dor da partida é horrível, parece que metade de nós fica lá, à espera que nós voltemos. O que ainda mais custa é vermos a distância a aumentar, inevitavel e irremediavelmente.
    Claro que eu não teria ficado tão agarrada a este texto se ele não estivesse BRILHANTEMENTE bem escrito, como sempre. Tens um dom enorme, daqueles que fazem qualquer pessoa sonhar e querer ser melhor. És MAGNÍFICA *___*
    BEIJINHOOS :D

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  2. sou eu sim Inês hahaha :b
    obrigada pelo apoio, muito obrigada.
    também tenho que passar aqui mais logo ir ler isto tudo, uau *o*
    agora com os testes é mais dificil mas foi fazer os possíveis.
    beijos

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  3. amo o texto *.*
    tens muito jeito :D

    beijinhos

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  4. WOW *.*

    AMEI Inês! Está mesmo lindo *.*
    Nem sei o que dizer! Estou tão orgulhosa de ti! Nem sei porquê, nem sequer te conheço ahah mas acho que criei um carinho especial pelo teu blog ahah xD

    Oh querida o amor é assim mesmo... Magoa, fere e às vezes são mais esses os momentos do que os que de felicidade, e até podemos sentir que nem os compensam, que não valeu de nada... Mas a verdade é que, e volto a citar a Margarida "Acho que tenho mais sorte do que outros, pois já amei alguém." É isso mesmo. Ao menos já amaste, e saber que muita gente nunca passou por essa verdade... só tens que te sentir previligiada.

    Espero que a dor já tenha passado e só tenham ficado as recordaçõe para serem passadas para o papel.

    beijinho ^^

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  5. Pronto, somos 4 xD

    O Natal é lindíssimo :) Fico completamente eufórica, ninguém imagina xD

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  6. A quem o dizes! Sofrer não vale de nada, claro que com esforço sabe muito melhor conseguir o que queremos mas não ha nada como a felicidade e essa só se alcança quando queremos e quanto menos pensarmos em tristezas mais depressa lá chegamos ^^

    beijinho querida*

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  7. Sem dúvida que transpareceste todos os teus pedaços de sentimentos para este imenso texto. Está magnífico, os meus parabéns. Não te conheço, não calculo sequer como é o teu ser, mas parece-me que és alguém que ambiciona alguém que amas, desejo-te a melhor sorte, e a mais forte coragem. Um beijo (:

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  8. Espero ansiosamente pela continuação *.*

    Deixo um beijo *

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  9. Inês *.*

    Confesso que sentia a tua falta (todas as semanas vinha aqui à procura da continuação da história :$)

    Quando à vida, a minha também anda dificil e e na escrita que me refugio, sabes?
    Mas uma coisa que aprendi ultimamente é que nao vale a pena baixar a cabeça; sorri e luta que dias melhores virão.

    Um beijo *

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  10. Inêês! :D Há tanto tempo! Confesso que vinha cá ver de vez em quando se tinhas publicado o resto da história, sim, porque a curiosidade ainda cá está :b Mas claro que todos compreendemos que há momentos em que o mundo real chama muito mais por nós :) Eu própria estive assim, nos ultimos tempos.
    Anyway, continuas a ter o dom da palavra :') Eu não descrevia melhor o que tu disseste, por muito que tentasse. Mostraram-me aquele texto e eu fiquei encantada *-*
    Beijinhos grandes *

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  11. LOL, sim, é Íris :)
    Se sei! Os momentos que mais nos marcam são aqueles que nós mais temos vontade de expressar, pelo menos é o que me acontece. Ohh, mas é claro que tu vais conseguir fazer isso e o resultado vai ser fantastico, como sempre :)
    BEIJINHOOOOS :D

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